segunda-feira, 14 de maio de 2012

Numa noite qualquer



E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile.— uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer outra coisa. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.
Permitido-me apenas guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa;   não será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo me traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em minha vida; que a lembrança deles me faz sentir maior a minha solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de minha noite e do meu confuso sonho?
Talvez não mereço imaginar que haverá outros verões; que meu inverno não deixou flores. O inverno — Me lembras — FUI maltratada; não havia flores, não havia mar, e fUI sacudida de um lado para outro como uma boneca na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; 
 Para que explicações?  o silêncio torna tudo menos penoso; lembro-me apenas as coisas douradas e digo apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

b

may

caruso

V.

JOÃO

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Lulu Santos.

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