Éramos, nós, estreitos nós, enquanto você és laço frouxo: tira as mãos de mim...
Todo laço é um nó, a bem da verdade. Pena que ninguém percebe. Laço ou nó ela
me pergunta quando peço para amarrar o meu biquíni. Laço, eu preferia
sempre, é a estética do facilmente resolvível que me comove. Tem coisa
melhor que ter um problema cuja solução pisca ao horizonte? Porque soltar
o biquíni sempre soa como solução. No fundo, eu gosto muito da dor
quando eu sei que ela vai passar em breve. Mas a certeza é sempre
altamente falsa, afinal, como eu sou boba, se o laço em sua essência é
nó, pode facilmente se desprender e voltar as tão aclamadas origens de
nó, basta que eu escolha o lado errado pra puxar. E adivinha? eu sempre
puxo. E depois, só com a boca o problema se resolve. Cravados os dentes,
eu consigo me soltar. Cravados os dentes e as unhas, se o nó for de
marinheiro, eu ainda consigo me soltar. Pena que eu não quero. Em
algumas amarras eu prefiro me prender, e faço de conta que o lacinho de
cetim que me prende é uma algema sem chave. Assim eu espero a dor, que
passará em breve (não antes de percorrer meu corpo inteiro) e desenhará
um laço na minha boca, que eu chamo de sorriso.
põe as mãos em mim...
autor
(Cervical poética.)