domingo, 18 de dezembro de 2011


aconteceu, coração


Não é porque passamos por algumas situações que vamos, exatamente, conseguir descrevê-las ou falar sobre elas - tenho sérias dificuldades em lidar com o que eu não sei descrever.
a ausência de vocabulário ou experiência são exatamente proporcionais a revolta sem escolta que o meu coração, a ponto de combustão, grita dizendo: o que está acontecendo?

acontece coração... que tudo acontece mesmo que não saibamos como tudo está acontecendo. não é porque você quer que o mundo pare que ele vai parar. não é porque você quer desfazer que será desfeito. os minutos vão passando e eles não tem, necessariamente, o endereço que você gostaria que eles tivessem. Se é destino ou será a vida, coração, eu não sei te dizer.

sei que você, meu coração, tinha os minutos os endereçados para felicidade da maioria. mas eles são contraste diante da realidade. no fundo, às vezes, feliz é o destino da minoria, do coração dos outros. posso te dizer que aprender a contentar-se com a felicidade dessa minoria não é comodidade: é amor de verdade.
um amor que o seu vocabulário ainda não tinha, coração. e que deverá ter porque afinal, aconteceu. E infelizmente, não tem mais volta.
Eu gosto de pensar em você sorrindo.

Gosto porque seu riso ecoava, seu riso era sincero - e como era saboroso ver você sorrir. Mas sei que não era só isso. deverá pensar, obviamente, no seu senso de bondade, de boa vontade, no seu volume cheio de verdade que iam além dos decibéis suaves e agradáveis. Como seus elogios eram sinceros e de como você expirava orgulho quando falava sobre mim. Claro que também me recordo de sua inconveniência em interromper qualquer momento para fazer valer sua opinião e no fim, fazer alguém rir - e lá estou eu lembrando do seu sorriso de novo.  Como era impossível não rir de você! - a última vez que te vi, você sorriu pra mim. e assim que quero pensar.

Este último riso seu será eterno. exatamente igual o meu amor era por você.

Elevador levando mais pessoas boas.

                                                                                                  Cesária Évora.

O elevador levou mais pessoas boas lá pra cima. Desta vez, foram três de vez: o ator Sérgio Britto, o carnavalesco Joãosinho Trinta e, no que nos interessa, a cantora caboverdiana Cesária Évora, por quem eu nutri um carinho todo especial desde que conheci seu disco "Cabo Verde", em cuja capa me encantaram os dedos gordinhos dessa gordinha simpática que cantou seu país, sua cultura e sua alegria triste própria da herança portuguesa naquela ilha encravada nas costas africanas, em pleno Atlântico - para ela, um paraíso.Cesária fez um belo trabalho com tomadas até mesmo no Rio de Janeiro, onde ela gravou uma participação de Caetano Veloso, apresentando uma cena que me pareceu por demais depressiva: Cesária vaga solitariamente pela orla carioca, primeiro a bordo de um automóvel e depois a pé, tendo por companhia o inseparável cigarro. No seu rosto percebo, a sensação de abandono também me invade, ao ver a maior voz de Cabo Verde "esquecida" numa cadeira, ainda fumando, e só sendo "lembrada" para responder a uma pergunta do tropicalista santamarense, que não entendeu a poesia de um verso da canção "Regresso" (letra da musica). Confesso que fiquei com um pouco de raiva de Caetano naquele instante, julgando que visitantes devem ser bem tratados por seus cicerones. Mas o fato é que Cesária regressou para seu verdadeiro lar e Cabo Verde será agora, talvez, a melhor lembrança de sua passagem pela Terra. Fica nossa homenagem despretensiosa.

b

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