- Eu tenho muito disso: de me desesperar e achar que aquele é o último minuto da minha vida. É nessa hora que as palavras aparecem pra me salvar. E eu escrevo, escrevo, escrevo até que chega o fim do texto e - engraçado - eu tenho tanta vida pela frente!
Será que, às vezes, a gente se dá tanto a outra pessoa que chegamos a desaparecer? Será que quando damos uma carta, um bilhete, um telefonema que nunca é correspondido, será que é assim que a gente vai se perdendo? Será que é assim que tudo se acaba? Ou nem mesmo começa?
Agora eu me procurei por todos os cantos que eu costumo ir, mas não me achei! Foi aí que eu percebi que eu não tinha mais nada..., que foi tudo embora, Antonio, que ele não tinha mais nem eu! Mas onde foi que eu me perdi? Em que verbo, poesia ou esquina eu deixei que ele fosse embora de mim sem nem mesmo me despedir? A janela do quarto estava aberta e o vento me trouxe uma folha em branco. A folha sorriu pra mim com seu sorriso imenso e branco. Ela disse que sim, que me entendia: ela mesma era um grande vazio. Mas eu não sei te preencher, disseram meus dedos.
(...)
Não resisti: e me entreguei à folha. E afundei o meu vazio nela o mais que pude. Como se assim pudesse aprisionar o meu vazio em um instante. Como se assim pudesse aprisionar o amor. Então eu aprendi: não importa o quanto eu não exista mais pra você, nem em quantos mil pedacinhos me encontra depois da decepção. Uma folha em branco pode ser uma carta pra alguém que, mais que tudo! apesar de tudo! em uma fração de segundo me comove e me arrebata e me abraça com um abraço forte e me completa. E isso é maior que tudo, mais lindo que tudo, muito mais lindo do que se eu fosse uma pessoa inteira.